Pura Resistência...

Começa com um mal estar...  Um aperto no peito.  Uma lembrança.  Uma palavra que não chega. Num momento de distração surge a luz do olhar e a voz ecoa pela sala. Chego a responder a pergunta que nunca foi feita. Não quero esquecer. Racionalizar a emoção é uma atitude, que pede coragem ou covardia, para sobreviver. Tento,  entre linhas perfeitas entender a absurda situação. Peço uma resposta, mas a surdez não permite ouvir. Penso em uma proposta, mas a vida manda seguir. Esperança é uma virtude, de quem deseja sobreviver. Confiança é mito nessa mania de não sofrer. A distância, de tão grande, faz aconchego desse não querer. E no silêncio a lágrima corre com força e em um suspiro pede para renascer .

      Bom Dia! Chega a mensagem pela manhã.   Automaticamente o texto é lido. E surge na telinha frases de otimismo, de coragem e fé na vida. Uma visão de mundo repleta de "paz e amor", lembrando os tempos de woodstock, mas sem o rock, talvez a trilha seja Maysa.   O coração desajuizado não entende a seriedade do momento. Estrangula a esperança e a respiração, antes controlada, se torna ofegante pelo medo da verdade.    A dor agrega, junta cacos, empilha pedras, junta restos e não alivia. Chega mansa, se instala e acumula sonhos, projeta metas, mas não realiza.  Esse amor que ao amanhecer insiste em recomeçar e termina na solidão noturna do adeus. A inconsequência do momento faz parte da rotina.    Não há o que decidir. O tempo é leviano e brinca com a minha ilusão.  É impossível distinguir a realidade. A situação é limite. Ao que parece só existe uma resposta: fim.

E... de repente estou madrugando  em teu sorriso. O abraço na chegada ainda me alimenta, lentamente, para uma nova caminhada. Mas, o tempo é implacável. O restinho do carinho está no fim. A receita está vencendo preciso de uma nova dose para evitar a dor galopante. O amanhecer não oferece a perspectiva do reencontro. As lembranças chegam intercortadas num pranto sem fim. A vista embaçada me faz esquecer detalhes. Necessito de um reforço, daquele breve sorriso para sobreviver.

Eu acho que... Pelo que sei... Eu entendo que... Penso que talvez... Tenho convicção...   E as frases fatais  são acompanhadas de verdades absolutas. Viramos seres  com discursos prontos ditando normas. Tudo entendemos Tudo sabemos Reis de regras prontas Com decisões únicas  e imutáveis  Julgamentos precisos Decisões com ares de superioridade. Nos tornamos pessoas pedantes que não encaram o mundo real vivendo de achacismos soberanos. A certeza do conhecimento nos faz marionetes repetidoras de ideias preconcebidas . Por teimosia o entendimento vira defesa de tese e todos nos tornamos engenheiros de obras prontas.

Qual a distância para acalmar a agonia? Qual a placa definiria o gesto de seguir? Qual a ferramenta  q ue fere a alma em dias tensos? Qual o mistério que não termina no fim? A dúvida, que atormenta a certeza do sim, se esvai. O chão não é firme e brinca com o compasso das batidas do coração O muro é frágil assusta a falta de apoio. A fraqueza do momento pede escolhas, mas é necessário recolhimento. Aguardar Agradar Água a dar Na sede da alegria que precisa brotar.