O Zé me deu uma flor
A tarde corria lentamente... Um paradoxo no tempo de espera e de sonhos. O encontro aconteceu sem nexo ou lógica. Ele surgiu de repente. Meio cambaleante, mas com a firmeza de ser o dono do espaço. Na calçada, a flor jogada... abandonada. O homem bonito, com o rosto cansado pelo sol e marcado pela dor, recolhe a joia preciosa. Os passos são marcados e arrastados. Um jeito trôpego. Mas decidido em sua valentia. A rua era sua casa. Vivia sem portas, e muros, porém mostrava sua alma em uma janela emoldurada. Um invisível na sociedade do ter. Um excluído com a certeza de não ser. Assisto a tudo e tento entender o movimento. Ele se aproxima cuidadosamente e, com um sorriso no olhar, me oferece a flor. Desapegado de regras e com a convicção dos fortes enfrenta o desafio de um encontro. Num segundo, mesmo surpresa e emocionada, aceitei o presente valioso. Aquele desconhecido brincou com o meu afeto adormecido. Se fez presente e não teve receio da rejeiçã...