O imponderável


Tudo preparado com requinte de um salão de chá inglês.  Palavras não ditas e medidas, gestos e sentidos calculados e a falsa certeza de que sonhos se realizam.

No palco vazio, a atormentada espera dos atores. Toca o terceiro sinal e a representação novamente acontece. Todos os detalhes são reproduzidos na sangria do espetáculo diário, que emociona e questiona delírios.

Quem testemunhará tamanha inquietação?

O autor supremo move destinos, cria enredos e propõe uma ação diferenciada que dificulta a naturalidade do encontro.

Se tivesse coragem tudo poderia ser tão simples. Mas a covardia impõe fracassos, uma espera que deixa tudo ser explicado pela divina providência.

Dar o primeiro passo seria o bastante para acalmar a longa jornada. Vitimizar parece a solução mais aceitável.  Qualquer um pode ser o carrasco que vai aplacar a dor que se auto alimenta sem generosidade aparente. E assim, não há o risco de assumir o propósito e a culpa fica depositada em outra esfera, foram desígnios atribuídos a má sorte.

Na mudança do calendário aguarda um aviso. E tal qual a alma triste, apenas espera “a banda passar”.


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