RENATA AGONDI
Hoje senti uma grande saudade dessa minha amiga querida, que nos deixou tão cedo. Pensei em escrever...Pensei em falar da moça bonita de fita no cabelo, pensei em traduzir sua doce voz, pensei em longas conversas e poucas palavras...
Mexi em guardados e resolvi (re)publicar alguns textos que fiz em sua homenagem.
Mexi em guardados e resolvi (re)publicar alguns textos que fiz em sua homenagem.
Conheci Renata Agondi na primeira semana de aula do ano letivo de 1981. Roupa em tons de azul, fita emoldurando seus cabelos, um largo e tímido sorriso delineava o semblante da menina que chegara para cursar a Faculdade de Comunicação da Universidade Católica de Santos.
Eu
estava no segundo ano do curso e como nunca acreditei, e não acredito, em
“trote” recebi Renata como uma nova colega e me preocupei em ambientá-la na
escola.
Estávamos
em sintonia. Lembro
que em pouquíssimo tempo nos tornamos amigas. Nossa primeira conversa foi
regida pelos astros. Renata, estudiosa de astrologia adivinhou meu signo -
Leão- e depois de alguns cálculos descobriu meu ascendente - Aquário. E Renata
achou esse fato muito interessante, pois afinal ela era do signo de Aquário com
ascendente em Leão. Se
quiséssemos poderíamos afirmar que essa simplista coincidência juvenil nos
uniu.
Das
conversas sobre música, aula, professores e livros começamos a viver momentos
mais sérios. Trocávamos confidências. De personalidades tão opostas, passamos a
ser semelhantes e cúmplices de todas as horas. Nos ajudávamos mutuamente.
Renata tornou-se a minha irmã mais nova.
Nossa
aula era de manhã e terminava às 11 horas e, por muitas vezes saímos da
Euclides da Cunha onde caminhávamos até a Conselheiro Nébias. Lá Renata pegava
o ônibus quatro e eu seguia para a minha casa. E nessa despedida já sabíamos
que muita coisa ainda ficou para ser dita no outro dia. Mas, numa emergência
poderíamos usar o telefone.
Na
faculdade recordo de coisas curiosas. Certa vez resolvemos que Renata deveria
ser candidata a miss estudantil. Ela riu muito, mas não aceitou a indicação. Um
outro momento em que fui assistir uma competição onde a torcida de Renata era
composta por sua mãe, dois irmãos e eu. Fizemos tanto barulho, que parecia ter
mais de cem pessoas. Valeu! Ela ganhou.
Quando
chegou 1982 senti uma grande alegria, pois iria para o 3º ano de Jornalismo,
porém o curso seria a noite. Me despedi da presença constante de minha amiga,
ela ainda teria mais um ano pela manhã. (Nessa época o curso matutino de
Comunicação na Facos acontecia somente para os dois primeiros anos).
Não
sei precisar com muita certeza datas. Acredito que foi nessa época que Renata
resolveu que seria importante trabalhar. Abrir horizontes. Crescer como pessoa.
Eu
participava de alguns programas na Rádio Cultura e sabia que estavam procurando
uma recepcionista. Indiquei Renata. Ela aceitou o desafio. O local era composto
por jovens idealistas e o ambiente era maravilhoso.
Renata
cresceu! Continuava com a meiguice característica, porém agora mais madura e
consciente.
Em
1983 voltamos a nos encontrar quase que diariamente, Renata também passava a
estudar a noite. Tinha seus dias divididos entre os treinos, o emprego e seus
estudos. Às vezes ficávamos muito tempo sentadas na escadaria da Facos
conversando e quase sempre lembrávamos o gosto da torta de palmito que comíamos
quase toda a manhã na cantina da escola.
Lembro
que Renata conheceu meus amigos que se tornaram dela também. Em minha casa era
a menina querida, minha mãe preparava com carinho doces especiais, para a
garota de fita no cabelo.
Formaturas.
Novos horizontes. E a vida nos separou do convívio diário. Renata por vezes ia
me visitar no meu emprego. Organizamos atividades conjuntas. Como por exemplo,
a exposição dos troféus do esporte santista no Miramar Shopping.
Renata
esteve presente também no lançamento de meu livro “Solua”, em 1995. Ela chegou
timidamente e quando eu a vi senti uma imensa alegria, recordei em poucos
segundos tudo que vivemos e alimentei a esperança de tudo que ainda viveríamos.
Eu
estava sempre empenhada em meus escritos, Renata em seu esporte. Não tínhamos
muitos objetivos em comum.
Mas éramos amigas e ainda somos. Os anos foram passando, a
crueldade democrática da vida nos afastou, mas continuamos unidas.
Hoje,
lecionando na mesma escola passo por lugares que frequentamos juntas. Tenha a
sensação que em alguns momentos ela passeia comigo. Até mesmo quando tive por
aluna uma menina super parecida com ela. O mesmo sorriso, a cor dos olhos e a
meiguice verdadeira. Quantas vezes chamei de Renata, minha aluna Patrícia.
Eu
vibrei com suas vitórias como sei que ela vibrou com meus textos. Eu a acolhi e
ela me ajudou. Os anos foram passando, mas aquela fita no cabelo jamais será
esquecida.
Tereza Cristina Tesser
setembro de 1997
Informações Complementares
TRIBUNA DO LEITOR
Terça-feira, 7 de fevereiro de
1989
Saudades de Renata
Sr.redator
Amanhã
transcorreria o 26º aniversário de Renata Agondi, a nadadora santista falecida
no ano passado no Canal da Mancha. Peço publicar:
“Amiga
Renata:
Senti
hoje uma saudade muito grande de você. Seu rosto não figura mais nas manchetes
dos jornais e nem tampouco nos noticiários de TV. Queria fazer uma crônica
linda, criar novas palavras para dizer de você. Queria te contar aquelas tolas
novidades e voltar a partilhar aqueles novos velhos segredos. Olho para a
parede do meu quarto e lá está a bandeira daquela competição que você me
ofereceu. A emoção toma conta de mim. Não preciso de nada especial para lembrar
de alguém especial como você, pois tua presença é ainda uma constante em minha
vida.
Mas
hoje... 8 de fevereiro será um dia diferente! É o seu aniversário. Penso em
cada sorriso que você me ofertou, cada conselho dado, em cada confidência
feita. Lembro do teu primeiro dia de faculdade, dos lanches na cantina e suas
vitórias no Jubas. Recordo das paqueras sem importância, da análise de nosso
mapa astral e dos planos para o futuro.
Mas
hoje... eu queria te homenagear, porém você foi simples, tão amiga e tão
diferente que qualquer coisa que eu pudesse dizer seria pouco para falar do
muito que foi você.
Já
sei... vou comprar flores, colocar aquela camiseta que você me deu, ligar o som
e ouvir os Beatles. Lembrar do teu sorriso, da fita em seu cabelo e agradecer a
Deus por ter me dado a melhor amiga que alguém um dia pode ter”.
Tereza Cristina Tesser
Tribuna do Leitor
Terça-feira, 24 de agosto de 1993
Renata Agondi
Há
cino anos a cidade de Santos amanhecia de luto. As manchetes dos jornais de
todo o país noticiavam a partida de Renata Agondi. Muitas homenagens!
Lembranças! Todos procuravam uma resposta. Mas o tempo, senhor de todas as
coisas, se encarregava de apagar a dor e a tristeza.
Mas
não quero falar somente da nadadora. Quero lembrar a jovem que encantava a
todos com o seu sorriso. De seus olhos claros que transmitiam paz e desejava
aprender todos os ensinamentos da arte de viver. De voz calma, das doces manias
e principalmente da grande paixão pelas pessoas.
Com
Renata se conhecia a ternura. O ser mais cético se encantava com suas aulas de
astrologia. E com apenas 15 minutos de conversa se conseguiria ser fã dos
Beatles “desde de criancinha”.
E
de repente... Ficamos sem Renata!
Porém,
ainda tento entender. Continuo com medo do mar. Continuo zangada com ele.
Ontem, 23 de agosto, foi mais um dia em que a saudade se fez presente.
Fecho
os olhos e posso ver que estamos juntas, sentadas na escadaria da Facos,
conversando animadamente sobre um assunto tão comum. Talvez na rádio, “pensando
música”, quem sabe traçando com grande verdade o que nos reservaria o futuro.
Meu
desejo é que, apenas por um minuto, todos lembrem de você. E, em sua homenagem,
pensem no verde dos teus olhos, no verde do mar, no verde esperança. E assim
entender que seu exemplo continua vivo. E, dessa forma, poderíamos compreender o
milagre de sempre acreditar. Meu pensamento, meu sorriso e meu momento são
seus. Até um dia. Até quem sabe!
A escadaria da Facos não existe mais...Tenho certeza que você e nossa querida Renata ainda estão por lá 💕🌹🙏
ResponderExcluirTambém sou aquariana e sempre admirei a Renata. Saber que você é parte da vida e história que ela nos deixou me faz te querer mais que bem. Muito mais do que já te queria, mi há querida mestra. Quero poder falar mais sobre Renata com você. Deve ser fantástico!
Forte abraço!