Está tudo ruim e tudo está bom

Eu era uma criança, os poucos desenhos animados da televisão hipnotizavam os olhares curiosos que estavam grudados na tela. 
A inusitada dupla de personagens, Lippy e Hardy, criada pelos estúdios Hanna-Barbera, mexia com o imaginário de todos. 
      Lippy, o leão, era um eterno otimista e acreditava que o futuro seria ótimo e a vida maravilhosa. Já o Hardy, a hiena, sempre via tudo com dor e a tragédia, o eterno pessimista. Quando algo dava errado, seu jargão  permeava todas as conversas:  "Oh! vida, oh! céus, oh! azar..."
     Tento fazer um paralelo com minha vida. Acredito que todos têm o direito de trabalhar, viver, opinar, escolher, brincar, comprar, amar, rejeitar, rir e chorar... Liberdade, sim.... Liberdade. (De pronto surge a imagem de outro personagem antigo, Wally Gator. Ele viva em zoológico, era esperto, alegre e queria ir embora daquela 'prisão'.Mas essa é outra história, para outro dia.),
     Depois desse parêntese, fico pensando que  nunca fui alguém tão otimista tal qual o leão e nem derrotista igual a hiena. Sigo a vida com o  propósito de viver e deixar viver. Porém,  a mentira, a desfaçatez, o descaramento e a falta de compromisso com a transparência me tiram do prumo e do rumo.
    Não sou a dona da verdade e nem tão pouco a defensora da lisura dos outros. Mas, conviver em um teatro, mal dirigido, me fere. Fazer um tipo politicamente correto e "deixar pra lá", me agride. Preparar um enredo para cada ato do cotidiano me faz mal, e a interpretação fica grotesca.
   Tudo faz parecer uma intenção obscura. O sorriso deve ser leve, mas não escancarado... meio Mona Lisa, meio Gioconda. O dizer não pode tão ser direto, precisa ter um tom de mistério. E, no caso de dar uma opinião, só vale se for a de todos no jogo do contente.
    Tento entender os motivos. Não julgo simplesmente, sempre tento compreender a lógica que motivou tal atitude, concordando ou não.
      Hoje não sei se sou Lippy ou Hardy . Acredito, que sem mistérios ou tramas, sou hoje uma mulher que descobriu, tardiamente, que Vitor Martins e Ivan Lins estavam certos, quando escreveram os versos da canção Cartomante.

Nos dias de hoje
É bom que se proteja
Ofereça a face
A quem quer que seja

Nos dias de hoje esteja tranquilo
Haja o que houver pense nos seus filhos
Não ande nos bares esqueça os amigos
Não pare nas praças não corra perigo
Não fale do medo que temos da vida
Não Ponha o dedo na nossa ferida... Ah...

Nos dias de hoje
Não lhes dê motivo
Porque na verdade
Eu te quero vivo

Tenha paciência
Deus está contigo
Deus está conosco
Até o pescoço

Já está escrito
Já está previsto
Por todas videntes
Pelas cartomantes

Está tudo nas cartas
Em todas as estrelas
No jogo dos Buzios
E nas profecias... ah...

Cai, o Rei de espadas
Cai, o Rei de ouros
Cai, o Rei de paus

Cai, não fica nada

Comentários

  1. Essa música foi feita ba época da ditadura.A realidade da época escrita nas entrelinhas. Ainda bem que aquela Solange (famosa algoz da censura) era sem percepção nebhuma e acabava liberando essas obras prmas da MPB.

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