Ah! Camões


Lembro da primeira vez  que degustei suas palavras. Era uma garota de colégio e sua obra me foi apresentada. 


Os colegas ficaram irritados, alguns diziam que não dava para entender nada. Brincavam comigo dizendo que eu estava apaixonada por alguém que nasceu no século XVI.


A professora de Literatura falava com empolgação de "Os Lusíadas" e  citava o autor como o maior poeta do classicismo português.

Me encantei!!!

"Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.
           
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?"


 Foi uma tarefa fácil decorar esses versos para apresentar na sala de aula. Queria saber mais  sobre sua vida. 

A dedicada professora percebendo o meu interesse foi me apresentando seus escritos. Alguns livros emprestados que devorei. Copiei, tentando caprichar na letra, os versos naqueles velhos cadernos de poesias, que as meninas tinham na adolescência.

Hoje, atormentada pela tristeza, recordei de encantos tantos, da descoberta da palavra, da verdade do poeta. Teu verso me descreve:

"Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê."

E você, Camões, parece dizer por mim.
Brinca com minha fragilidade, ri de meu amadorismo e me provoca com textos e lembranças.  
Perturba a minha indolência e me empurra para a reflexão.

"A verdadeira afeição na longa ausência se prova."

Se apodera da minha insegurança, faz troça de minha saudade e ri de minha falta de habilidade ao poetizar.

A rima pobre se amplifica. Não tenho o teu talento, apenas o sentimento.
A dor parece cada vez mais implacável e penso em desistir. Na viela do destino, a rua estreita aperta o peito.

"Cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro valor maior alto se alevanta!"

Então... só me resta amar.








Comentários

  1. Parabéns, Camões é pura arte e seu texto também

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  2. É um grande e merecido elogio a Camões, texto lindo!

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