Ressentimento
O diálogo acontecia de forma corriqueira. A temática era o
cotidiano. O novo semáforo na esquina, o aumento da passagem de ônibus, o
trabalho estressante e o desejo de realizar a próxima viagem de férias.
E num repente a frase corta as entranhas: “Estou ressentida”.A citação veio tal qual uma sentença de morte.
Que mal foi causado que de uma conversa trivial,
um pedido de socorro aparece de forma tão simples e tão forte?
O olhar está parado num sonho qualquer. Perde-se nas
lembranças do que foi dito e não feito.
Não se via a luta, a fibra tão característica. Não se encontrava
no presente a sombra de uma vida longínqua. Era apenas a certeza da desfeita, na
fantasia do reconhecimento de sua história.
Estava só. Os que testemunharam sua competência e sua trajetória
sumiram no deslizar dos dedos, ao apagar um arquivo sem valor.
Não era apenas um melindre ocasional. Era, sim, uma tristeza
fina, tatuada na alma. Vivenciada na fala do adulador, nos gestos do ignorante
e na renúncia do não comprometimento.
Uma folha qualquer, abandonada no cimento frio. Não há
desculpas para o causador dessa dor.
O abandono. A folha. O cimento frio. Dor. Do ressentimento. Bem escrito. Sintético.
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