O não você já tem

   Eu sempre gostei de ouvir histórias. Pode ser em um bar, na fila do supermercado ou dentro do  ônibus. Tenho interesse nas  falas, nas confissões e nos diálogos das pessoas. 

        Atualmente,  me sinto meio frustrada,  a configuração do coletivo mudou. Os passageiros seguem de cabeça baixa, conectados ao celular. Olho cada rosto, ou pedaço dele, tentando imaginar o que se passa na alma de cada um. 

     Hoje foi diferente. Três jovens conversavam sobre paixão, se era o momento certo para se declarar.  E uma delas, para encorajar a amiga disse: "Tome uma atitude, afinal o não você já tem.

     Num primeiro momento a frase fez sentido. É, simples assim. O não já é meu, e se a mão do destino der uma força, eu posso ter o sim. Sorri aliviada.

     Mas será que a vida é isso? Eu sempre terei o não e o sim vem de uma surpresa? O sim é um presente dos céus? Qual a resposta ideal?  Quero prestar atenção ao diálogo, mas o questionamento começa a me perseguir.

      Tento dar de ombros, não consigo.  O sim e ou não são implacáveis. A atitude fatalista é uma realidade.  Por que o não, se mereço o sim?

      "Maktub - já estava escrito". Como assim? Esqueço o livre arbítrio e aguardo... afinal... "o universo conspira a meu favor".

      E se tudo já estava escrito, a conspiração para a minha felicidade  é um detalhe. Se mudo de caminho, viro a esquerda,  entro em uma rua escura, encontro uma praça, vejo flores ou desabrigados. É um desvio de rumo? É  o universo ou maktub?

     Essa viagem está muito crítica. As minhas células nervosas ficam mais ativas. Quero mudar a rota dos meus pensamentos. Aparece a frases feita "só os fracos desistem".  Será? Não é uma atitude corajosa assumir  o fim?

      Chegou a minha hora. Levanto. Desço do ônibus, se é não ou sim... só o tempo dirá.