Saudade antecipada

     

          Que audácia! Resolvi falar de saudade. Num primeiro momento vem a lenga lenga que é uma palavra que só tem na língua portuguesa, ou que é difícil traduzir para outros idiomas. 


       O que sei é que existe, é presente e, muitas vezes, nos pega no desassossego. Ela surge tal qual um raio que invade o coração e quando se percebe, ela já está machucando.

   A ideia da discussão é boa, principalmente próximo ao Natal. Parece que tudo fica mais intenso. 

        Esse ano, por exemplo, as propagandas institucionais atacaram de vez o nosso emocional. Comercial de banco supera filmes inesquecíveis,  como o fim do Titanic, a angústia  de A vida é bela ou da despedida do ET.

      Mas a dor que não se imagina sentir é a da saudade antecipada. Aquela que idealiza o que não mais será. É ver a presença do  ausente no futuro. É projetar como serão vividos os dias que ainda não chegaram. É viver uma  aflição latente.

     Pressentir a intranquilidade da falta. Imaginar como será o próximo aniversário, o fim do encontro casual e a certeza de que as bobagens do cotidiano  não serão compartilhadas.

      A saudade antecipada paralisa. Mostra a incapacidade  humana na busca de respostas. Aperta o peito e ignora a calendário. Interfere no presente.

     Não é morte. Mas é o fim. A história vivida pode servir de consolo, mas o enredo futuro terá muitas páginas que não serão escritas a quatro mãos.

    Com medo do fogo, não se risca o fósforo. A ideia de abrir a janela e transformar a paisagem é assustadora. O que sei hoje é que pode ser melhor, pode ser pior... mas, jamais será igual.

     A saudade antecipada gera conflito interno. Fere a lógica da argumentação.  O raciocínio  não é coerente, reduz  ao um simples quadro de tristeza e solidão.


     A saudade antecipada não tem regra, nem sentido e talvez cabimento. Não aceita frases otimistas e de consolo. Ela simplesmente existe. E esse é o meu momento.




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