Esse confinamento não é meu


O dia amanheceu reproduzindo  Claude Monet.  As mãos seguravam a xícara de café que daria a energia necessária para enfrentar mais uma jornada. O banho  refrescante empurrou para a vida.

Secou os cabelos e deu uma forma diferente à moldura do rosto.  O kajal desenhou  perfeitamente  o contorno dos  olhos e o delineador fez renascer o brilho em tempos escuros.

O  vestido é novo, comprou após mudar um número no manequim e as sandálias ofereceram a postura  necessária para os passos leves e elegantes. O  perfume é aquele especial, comprado na última viagem. Dentro do limite e na falsa passarela desfilou a beleza imaginária.

Passou pelo apartamento encontrando pessoas e visitando lugares.  Flores e plantas  transportaram ao  parque  ou ao calçadão à beira mar. Conversou com seus fantasmas, riu de histórias vivenciadas e falou consigo. Ouviu a sua voz.

A tecnologia a aproximou, ainda mais, do amigo distante e a fez voar em trocas de mensagens de otimismo  e fé. O amigo de perto faz compras e deixa na porta de casa. O telefone tocou, a voz deu lugar ao texto e o diálogo aconteceu.

Negando a Síndrome de Poliana  abandonou o passado e quer acreditar que o hoje será lindo.  A incerteza do futuro abala o cenário do presente.

Ivan Lins invade a casa tentando  dar uma resposta:

“No novo tempo
Apesar dos castigos
Estamos crescidos
Estamos atentos
Estamos mais vivos
Pra nos socorrer...

...Pra que nossa esperança
Seja mais que vingança
Seja sempre um caminho
Que se deixa de herança
No novo tempo
Apesar dos castigos
De toda fadiga
De toda injustiça
Estamos na briga
Pra nos socorrer...”


Novo Tempo – lvan Lins e Victor Martins
Foto: Te Cris

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