Sala de espera
A sala de espera aterroriza. O ambiente carrega
um ar de necessidade. Cada qual com uma
pergunta, uma certeza, uma dúvida.
As conversas são entrecortadas. Começam diálogos sobre curas e
chás, conselhos divinos e teorias médicas dignas de serem apresentadas em grandes congressos científicos.
Na mesinha do canto as revistas são velhas. Nas páginas amarelas os
desmandos anunciados continuam em pauta. Não há como abstrair.
O ar condicionado nunca está na temperatura ideal
para conforto de tanta gente que aguarda com ansiedade.
E vem a moça simpática e chama o primeiro. E
todos olham como se fossem o ser escolhido.
Um personagem central é o celular, cada qual com
um som diferente para anunciar sua presença. A tela luminosa muda o foco e leva para um mundo de sonhos seguros.
A criança bagunceira provoca com seu correr
e motiva alguns gracejos da plateia (im)paciente.
Tenho uma teoria... quanto mais confortável o
lugar, mais demorado será o atendimento. Sinto um aroma de café. Seria delírio?
Estou só. Sem acompanhante, sem o telefone que conforta e aproxima. Queria o
livro que esqueci em casa, falta tão pouco para terminar a obra. Ele seria
muito útil agora.
Tal qual uma cena de filme olho através das
imagens abrigadas no local. Cansaço, esperança, fadiga, pressa... Histórias de
olhares ermos, de isolamento. Seria Fellini ou Woody Allen? Talvez uma
chanchada brasileira.
A discussão política não é mais uma simples
reclamação, mas vem carregada de discursos inflamados sobre a situação do País. Uma teoria assustadora que mudaria o destino da nação.Tenho medo.
A porta se abre e mais um é chamado ao paraíso.
Ainda não é a minha vez.
Pego meu bloquinho e resolvo escrever. As palavras me salvam do
calvário.
A verdade é implacável...Me resta esperar.
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