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Mostrando postagens de novembro, 2017

Ainda escrevo cartas

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“Cartas de amor são escritas não para dar notícias, não para contar nada, mas para que mãos separadas se toquem ao tocarem a mesma folha de papel.” Rubem Alves A distância me lembra cartas... A saudade me faz pensar em envelopes e cartões,  sentimento traduzido no desenho do texto. Emoção. E uma incontrolável vontade de conversar, partilhar, saber e encontrar. Talvez seja essa a motivação. A definição de Rubem Alves parece desvendar o meu segredo. Na infância, por mais cadernos de caligrafia que fizesse  não teve jeito, minha letra sempre foi horrível. Legível, mas feiosa. E o texto parecia gritar dentro de mim. Muitas vezes recorri à máquina de escrever, apesar da poesia de Quintana alertar: "E depois, como pode ser íntima uma carta escrita a máquina? Traz ideia de distância, de pequena mas  intransponível distância… como um beijo dado de máscara ". A professora de Português que ensinou como preencher um envelope, destinatário, r

O preço da flor

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A manhã acordou com uma chuvinha fina e o vento cortante... Um domingo para ficar em casa. Tomei meu café e saí apressada. Precisava enfeitar a minha vida com a primavera. "Se você guardasse todo o dinheiro que gasta com flores, sabe o que teria?", questionou na fila do caixa, o homem a quem não pedi  a opinião. Com um sorrisinho de canto de boca, respondi certeira: "Teria dinheiro, e não flores". As pessoas  próximas olharam com um ponto de interrogação.  Uma senhora vibrou com o cinismo, mostrando cumplicidade. Sem entrar no mérito se devo ou não dar satisfação a um desconhecido, amo ter flores em casas. É uma necessidade  vital. Elas se deixam cuidar. São um cartão de boas vindas aos amigos. Um olhar de esperança no momento de dor. Um pedaço do céu imaginário, que me abriga e me faz lembrar de gratidão e vínculos. Na elegância do Lisianthus, na sofisticação da Orquídea, na fragilidade da Tulipa ou na cordialidade da Begônia as flores me encantam

O adeus de Tereza

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S empre fui apaixonada por livros. Gosto do aroma ao folhar as páginas e desvendar segredos. No final dos anos 60, toda a família mais abastada, tinha na estante da sala a Enciclopédia Barsa. Sinônimo de poder e cultura. Mas isso é uma discussão sociológica, que não cabe nessa reflexão. Eu sonhava, na minha adolescência,  em ter esse tesouro. Mas, não era possível. Lembro de consultar suas páginas na biblioteca do colégio e na casa de uma amiga, onde fazíamos os trabalhos escolares. Numa tarde comum apareceu na escola um vendedor de livos de bolso. Ele apresentava pequenas coleções com três exemplares, capas metalizadas nas cores lilás, amarela e vermelha. Fiquei encantada. Cheguei em casa, corri para pegar a latinha na qual guardava minha pequena fortuna, acumulada com  agrado de minha família. Contei o dinheiro e ainda faltava muito. Com jeitinho, pedi para a minha mãe completar. E assim, consegui o valor necessário. Orgulhosa, comprei a preciosidade. Intimam

Desnudar, verbo do amigo

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Desnudando a alma Inundando o coração. É dessa maneira que acontece o encontro amado, aguardado e apurado. Um gole de café, uma descoberta Uma piada, uma confissão. Um olhar generoso. Um entrelaçar de mãos. E tudo é possível. Com o amigo se troca coração. Se toca o espírito. É um sofrer junto. Um vibrar em dueto. Uma ponderação. Um afago. Chega de repente Toma posse do carinho Assume seu pedaço de chão. O relógio para. O tempo é afinidade. A palavra não carrega pausa. Não há prazo de validade. A gargalhada e a lágrima Criam desenhos imaginários Sugerem  novos caminhos. Não há (pré) conceito estabelecido Tudo é permitido. Segredar em voz alta sonhos inconfessáveis. Assumir na distância O desejo do outro Em favor da sua felicidade. Amigo é a oração perfeita Um elo com a eternidade O lenço branco na turbulência O eco para aplacar a solidão. Um remédio que acalma a carência O doce sol da essência que ilumina a escuridão. Amigo não é espelho Mas

Sala de espera

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A sala de espera aterroriza. O ambiente carrega um ar de necessidade. Cada  qual com uma pergunta, uma certeza, uma dúvida.  As conversas são entrecortadas. Começam diálogos sobre curas  e chás, conselhos divinos e teorias médicas dignas de serem apresentadas  em grandes congressos científicos.  Na mesinha do canto as revistas são velhas. Nas páginas amarelas os desmandos anunciados continuam em pauta. Não há como abstrair. O ar condicionado nunca está na temperatura ideal para conforto de tanta gente que aguarda com ansiedade. E vem a moça simpática e chama o primeiro. E todos olham como se fossem o ser escolhido. Um personagem central é o celular, cada qual com um som diferente para anunciar sua presença. A tela luminosa muda o foco e leva para um mundo de sonhos seguros. A criança bagunceira provoca com seu correr e motiva alguns gracejos da plateia (im)paciente. Tenho uma teoria... quanto mais confortável o lugar, mais demorado será o atendimento