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Mostrando postagens de 2020

Aflição

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  É de chamar a atenção a casa coberta de verde. Tento desvendar os mistérios e detalhes do local . As janelas estão abertas e  desocupadas,  na loucura da esperança vejo o par sorrindo e fazendo planos. Flores dão um ar quimérico para a cena cantada em soluços nos momentos de afastamento. Pedras na estrada (lembra poeta?) constroem o lar do desejo, na tentativa de ser feliz. Emolduram o silêncio e a gargalhada  na prerrogativa de um improvável  reencontro. O desassossego brinca na teimosia de acreditar.  Contrariando a expectativa, o enredo torna-se repetitivo e a lágrima insiste em ser absoluta. Na velha geladeira o calendário amarelado se desfaz em dias passados lentamente na solidão. Na inspiração do romantismo do século 19, encontro no abandono e na incerteza um simples motivo para sobreviver. * foto: Te Cris Tesser

Ninguém apanha, e é assediada, de graça

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  Se já não fosse tão sofrido conviver diariamente com mortes e o isolamento social ainda somos atacados com declarações e atitudes de autoridades que nos machucam  sem piedade. Depois da revolta em assistir um juiz dizer a uma mulher que "ninguém agride ninguém de graça". Temos que conviver com o deputado que assedia a colega na maior naturalidade.  "Que país é esse" cantava numa súplica o incrível  Renato Russo. A pergunta tão atual ecoa...Revolta...Abala... Que país é esse onde o deboche virou rotina, os direitos fumaça e a empatia é coisa de comunista? Que país é esse que permite a um deputado constranger uma mulher e achar que  ser desrespeitada é um elogio? Que país é esse onde um menino que joga futebol é humilhado por ser negro? Que país é esse que criminaliza a homossexualidade e não se respeita o amor, o carinho e a vida? Que país é esse onde uma pandemia é ridicularizada e a doença tão fatal é chamada de gripezinha? Perdemos o senso, não há mais respeito,

"Para quê essa ansiedade?"

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       A pergunta do ministro da Saúde ecoa pelos cantos do País. Absurdada assisto essa declaração de horror e um lamento grita.      A ansiedade vem da angústia em estarmos sem cuidado, sem parâmetro e sem carinho. As incertezas dos dias perpassam na aflição de nos manipularem.      Para quê essa ansiedade? Ora senhor, a resposta parece óbvia. Podemos listar mais de 180 mil motivos.       Estamos em um desgoverno,  abandonados e escravizados por negacionistas que teimam em propagar o desrespeito à ciência.      Gostamos de abraço, gostamos de trabalhar, gostamos da partilha e, principalmente, gostamos de gente. Ao que parece "seu patrão" e asseclas não corroboram da mesma delicadeza.      A inquietação surge a cada notícia da estupidez de quem não tem empatia e desconhece valores sagrados.      O desassossego embaça os olhos dos que estão desde março sem contato com o mundo exterior. Dos que vivem sozinhos e por dias não ouvem ninguém e nem mesmo a própria voz.      A guerr

Cantilena

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Não sei viver o jogo do contente

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Todos os dias encontro a realidade de mãos dadas com a mínima expectativa. Um despertar de poucas novidades se desenrola durante as horas seguintes.   O caminho, por vezes longo, atravessa detalhes. A senhora TV faz companhia e a as vozes preenchem o ambiente. O som é apenas para quebrar o silêncio do apartamento, ora enorme, ora pequeno. E surgem estudiosos explicando, com profundidade como será o novo normal. Animadamente orientam sobre o que fazer após a pandemia.    Com um entusiasmo irritante pregam dias melhores. Seria agora o momento de planejarmos esse futuro com muitos abraços, festas, volta ao trabalho presencial   e sonhar livremente com viagens e esperar alegremente pelo próximo   carnaval. E nesse momento tive certeza que Eleanor H. Porter jamais se   inspiraria em mim para escrever    o livro Poliana. Não consigo   ser otimista e pensar que sairemos melhor após a loucura da pandemia e do isolamento. A proposta do jogo do contente corta as entranhas e, brincando com

Máscara. Não é disfarce e sim cuidado

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 Estranhamente, os que não têm nada para esconder usam máscaras.  De cara limpa e de sorriso largo sigo a vida. A maquiagem alivia algumas marcas da vida, mas elas se fazem presentes na história. O sorriso transparece no olhar, a verdade grita na atitude e cumpre-se um ritual de amor. Mas há quem negue, quem não se compadece e não tem claro a importância do outro. A máscara não me esconde e sim me coloca no palco e me faz brilhar na ribalta. O temor do desconhecido está em cada esquina, um inimigo que destrói e invade a falsa segurança. Cubro o rosto e mostro a essência. Desnudo a alma e respeito o medo.   Odeio o termo "novo normal".No estilo realista nada pode ser igual, insólito é o significante e a verdade de cada amanhecer reaparece na esperança.

Exílio

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Diante desse isolamento sem fim algumas lembranças tocam o coração.  O descompasso das malas na esteira, o frescor suave em um dia de sol, a emoção ao ler nas entrelinhas  a tão sonhada frase de amor.  O arrepio num toque das mãos, uma longa  viagem de tempo curto, um livro de enredo fascinante.  A roupa larga na estética da ditadura, as grandes decisões em um papo no bar, a ideia do belo e sua tirania. O descompromisso de comprar inutilidades, carregar sacolas de desejos, sentir uma vitória interior apenas por seguir. A injustiça da espera de uma ligação, os dedos rápidos no teclado acelerando a expectativa, o café forte empurrando para a vida. O encontro do sagrado, o raio de sol penetrando na fresta,  a desorganização do armário arrumado, a vitória de um novo quadro na parede A lágrima teima em aparecer. O calendário não perdoa, indiferente ao tempo e ao espaço * foto: Te Cris

Caixas da história

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  Descobrir. Abrir. Redefinir. Amo caixas e os mistérios envolvidos em seu interior. Talvez essa paixão venha da infância. Lembro da sensação da chegada da cesta de Natal Amaral, era de vime e com muita coisa lá dentro. Confesso que até hoje não gosto da maioria dos produtos, mas lembro de bonequinho feiinho que as crianças queriam ter. Na escola o desejo era o estojo para guardar lápis de cor, borracha e apontador.  Me vem na recordação um de madeira com a tampa colorida. Sonho de consumo de uma criança de sete anos. O cofrinho era pesado e precisava quebrar para encontrar o patrimônio guardado e acumulado. Na adolescência, o diário, recortes e recadinhos eram armazenados em um baú. O papel de bala que veio do menino bonito da escola, também fazia parte desse tesouro. E a vida segue. As papelarias passam a vender caixas coloridas, decoradas, com brilho, com divisões, embalagens de papel cartão  que são verdadeiras obras de arte.  O fascínio continua. A vida adulta revela e esconde. Um

Cem mil... sem compaixão

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  Num dia qualquer, em uma noite vadia sons e dores mesclam a agonia . O momento é de pausa  e a incerteza consome memórias.   Corações em chama debruçam em covas anônimas a triste desesperança. E nada se aprende nessa transmissão de horrores. Abnegados se desesperam em descobrir Negacionistas teimam em resistir. E são números. Cicatrizes entalhadas na alma que pedem respeito que pedem justiça que pedem paz. * foto: Te Cris Tesser

Isolamento

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Correria. Um entra em sai desmedido. Compromissos, agenda lotada e, escravos das tarefas... seguimos. O desejo de apreciar demoradamente aquela xícara especial de café é utopia. Mas, o implacável tempo nos cobra dedicação. Uma entrega total sem um pensamento lógico. O celular atrelado ao corpo exige respostas, mensagens rápidas de carinho, cobranças, prazos e compromissos. E um novo dia amanhece e assustados não temos escolha. Isolar para não contaminar. Abandonada em minha fragilidade não me comporto bem com a esperança. O entendimento é falho. O dia nasce e termina e estamos todos num emaranhado de desmandos, presos e sem  alternativa. E depois de quatro meses, eles continuam jogados no tapete gritando no desejo de caminhar.

Sim, hoje é Dia de Santo Antônio

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Não acordei cedinho, não fui buscar pães  encomendados  um dia antes na padaria, não vi minha mãe separando os pacotes para doação, não encontrei meus amigos frades, não separei mimos para os amigos, não comprei lírios com mensagens. Não fui sorrindo para a porta do Embaré. Não recebi a bênção que me emocionava. Sim.... hoje é Dia de Santo Antonio. Sempre foi um dia especial. Herança de meu avô Antônio e de minha tia Amélia. Na minha família São Judas disputava espaço. adorado por minha mãe e minha prima Marisa. Apenas uma observação, para um outra história Sim, hoje é Dia de Santo Antônio O sol brinda mais um dia. Em quarentena por mim e pelos outros. É uma questão de saúde pública e empatia. Estou em casa. O bolo chegou e pãozinho foi entregue pelos amigos Alexandre e Eduardo. A alegria  de minha mãe na quermesse não estava presente, o olhar de cumplicidade trocado com meu Santoinho não foi possível. Sim, hoje é Dia de Santo Antônio. As lágrimas correm molham o rosto e

Janela, minha companheira

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Sempre fui fascinada por janelas. Nas viagens fico encantada por molduras tão diferentes, registro tudo e nascem as fotos. Imagino histórias, me prendo aos detalhes, cores e formatos. Quantos segredos! Por quase toda a minha vida, a visão sempre foi do meu quintal. E tal qual adolescente eu sonhava em ter a experiência de debruçar, ver e rever o mundo. E aí tudo mudou. Nessa solitude continuada, com a porta fechada e o entendimento do "fique em casa", vislumbro do oitavo andar um diálogo com o mundo. Escancaro meus devaneios, busco detalhes e participo de conversas inexistentes. Com uma xícara de café agradeço em oração o nascer de mais um dia. Atenta ao movimento das ondas do mar, decido o clima. E me preparo para vivenciar momentos. Alguém com passos acelerados tem que parar no ponto de ônibus, a longa espera  e a certeza de chegar, mas sem saber quando. A menina anda com olhar pregado no celular  aceleradamente escreve mensagens e não percebe o bur

Silêncio

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Uma echarpe de seda vermelha desce do cabideiro e grita ao bater no chão. O tilintar da colher, na companheira xícara de café, ecoa pelo corredor da casa e lembra que há um mundo a se redescobrir. Nas janelas as panelas tornam-se a voz de uma sociedade cansada de tanta humilhação. Na parede branca um jogo de letras se forma e a saudade é denunciada em neon. O antigo relógio anuncia o passar de horas com um canto desafinado. Não há vozes, pode se ouvir  ao longe uma toada triste, na dor de uma ode ao exílio. E mais um dia termina em silêncio foto: Te Cris

Fique em casa

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E nasce mais um dia e com ele renovam-se as reclamações. O café oferece a exata medida de força e coragem. Confinamento. Isolamento. Tanto para fazer.  A agenda aponta uma reunião pela manhã, que pode também ser definida num monólogo infinito. E  todos acreditam que os problemas foram resolvidos democraticamente. A correria é grande. No intervalo  do almoço está marcada a hora com a manicure, atualizar as mensagens no "whats" e passar naquela galeria e ver se tem uma bolsa diferente. E de volta ao trabalho a maratona continua. Papéis, revisão, textos sem fim... Quer uma folga.  Fim do expediente. É dia de  barzinho e  a cerveja com os amigos. As risadas ecoam pelo local e os abraços tornam a noite mais especial. Enfim, está em seu refúgio, o lar.  Tão lindo e arrumado, lembra um anúncio de revista.  Sem muito tempo para aproveitar, porque sempre tem um compromisso mais urgente. Ainda com a xícara de café na mão, abre a janela e a imagem insolente agri

Esse confinamento não é meu

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O dia amanheceu reproduzindo   Claude Monet.   As mãos seguravam a xícara de café que daria a energia necessária para enfrentar mais uma jornada. O banho   refrescante empurrou para a vida. Secou os cabelos e deu uma forma diferente à moldura do rosto.   O kajal desenhou   perfeitamente   o contorno dos  olhos e o delineador fez renascer o brilho em tempos escuros. O   vestido é novo, comprou após mudar um número no manequim e as sandálias ofereceram a postura   necessária para os passos leves e elegantes. O   perfume é aquele especial, comprado na última viagem. Dentro do limite e na falsa passarela desfilou a beleza imaginária. Passou pelo apartamento encontrando pessoas e visitando lugares.   Flores e plantas  transportaram ao   parque  ou ao calçadão à beira mar. Conversou com seus fantasmas, riu de histórias vivenciadas e falou consigo. Ouviu a sua voz. A tecnologia a aproximou, ainda mais, do amigo distante e a fez voar em trocas de mensagens de otimismo   e f

Fato

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Longe o caminho de quem percorre sonhos. Imensa é a distância do devaneio e da libertação. O senhor do tempo provoca a coragem impõe vielas estreitas e cruzamentos desafiadores. Há um quê de esperança ao atravessar a rua. Um passo sincronizado segue a rotina de histórias não contadas de certezas não vividas de almas separadas. Não há democracia no destino.