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Mostrando postagens de 2019

Terceiro sinal

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Noite de estreia.  É visível   tensão dos últimos ajustes.   O cenário requer cuidado, a interpretação   tem que ser impecável, mas, tal qual o jogo diário, admite improvisos e surpresas. O diretor maior acredita no elenco, falta pouco para   abrir as cortinas. Teremos sorrisos do público? Aplausos em cena aberta? Silêncio? Ou um celular interromperá o diálogo. Primeiro sinal. Na palteia o burburinho é intenso. Cada qual buscando o seu lugar. No palco, coadjuvantes anônimos complementam a cena garantido o desempenho   dos artistas principais. Na coxia ainda se ouve uma oração. Olhares tensos e esperançosos determinam a insensatez do momento. Nos bastidores não há mais tempo para ajustes. Segundo sinal.   Coração apertado. Um abrir de asas na emoção.   A loucura dará vida aos personagens e a expectativa da incerteza brinca com os saltimbancos insanos. O momento é agora. Foi dado o terceiro sinal. Não há como voltar no tempo.   O futuro se apresenta e não há e

Simples descarte

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Não havia percebido a sombra no sorriso amigo, a nuvem nas atitudes e palavras. A conduta embalava a inveja e os tropeços não deixavam o caminho fluir. Talvez seja o enfrentamento de astros acreditando que o eclipse seja um fenômeno natural na  pretensa amizade. E tal qual uma cena teatral,  o parecer ser é mais forte do que existir. A troca torna-se simples nesse absurdo jogo do poder. Não dá para viver sempre preparada para a próxima armadilha. Imaginar inimigos pairando numa ameaça tênue, com delicadas tramas em uma versão da verdade. Quero a força e não a forca. O algoz prepara o golpe fatal e usa de uma gentileza travestida de carinho. A frase "deixa comigo, eu resolvo" está encoberta por uma sutil  sentença de morte, O que fazer? Aceitar como passividade o desafio, culpando o destino? Ou assumir a Síndrome de Poliana e acreditar na validação subjetiva da aceitação?

Primeiro passo

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Longo o tempo da falta de espaço, do aperto no peito, no desvio do abraço. A vontade de saber ser, briga com o reflexo  estampado no velho retrato. A caminhada tende ao  fracasso, o medo é sombra,  necessário o laço. A ironia da vida brinca com o imaginário. A distância não permite a troca de olhares, e sim de sonhos. É segredo, mas no íntimo entende que não é importante a confidência, pois o  amigo já conhece a história. Numa narrativa de desencontros é difícil desvendar a biografia e contar o que se está cansado de conhecer. Um ombro lembra desabafo. Na troca de afetos não há lugar para embates. Na dúvida resta o primeiro passo.

Sei lá

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Deu vontade de chorar, tentei chamar minha atenção, mas o soluço fez implodir a dor Num passo, o trajeto determina o início do ponto de partida. A calçada estreita é o limite para o encontro. De costas, indo ou vindo, não há testemunha de alguma carência. Um atalho pode indicar o caminho ou mudar a direção. A história idealizada brinca com o desejo. Esconder sentimentos confusos pode ser uma paragem adequada. E nessa caminhada de reencontros, a calma se faz necessária. Nessa triste necessidade de voltar.

Esse pecado não é meu

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  Regra, mandamento e determinação.    É assim que ele quer. Faça dessa forma, siga essa diretriz e tudo ficará bem. Sem limites se aceita a ordem do coro feliz que indica como agir. A orientação é superior. Por vezes imaginária e em outras é retirada de escritos ditos milenares que nos obrigam acreditar, sem questionamentos. Impossível não absorver dogmas e valores introjetados desde o ventre. Qual o motivo das mãos não se entrelaçarem e do beijo negado? É obrigatório vivenciar na vitrine mais um autômato sem expressão. Onde está o segredo da eternidade? Qual o devaneio que impede de santificar o que é dito no templo, em qualquer tempo? Como não questionar o que é permitido por homens que se anunciam profetas e se escondem no autoritarismo desmedido? Como não odiar a hipocrisia de sorrir para rostos tristes? Um coração puro talvez não entenda a malícia do soberbo. Com sua velha casaca, o poder impõe sua vontade e,   envolto na escuridão, assume o ar soturno do medo.  

Estou

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Estou!  Será que sou? Tem que reagir!  Mas, como agir? Tem que encarar!  E com que cara? Tem que buscar!  Quando será o encontro? Tem que ter! Cadê o ser?

Lembranças

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A noite ia se desmanchando lentamente.  Um vento frio invadia a janela e o arrepio do perfume amado invade o ambiente. Tal qual um bálsamo, acalma meu coração e viajo no encanto da lembrança. A saudade escancarada domina cada canto do lugar e, numa atitude serviçal,  me deixo levar por momentos com cara de festa. Num instante solene tento decifrar aromas e me entregar ao delírio da presença faltante. As poucas fotografias emolduram a cena e separo fragmentos de sorrisos e olhares. Tento decifrar detalhes e ler além do não dito. Numa atitude solitária, assumo o risco. Invento motivos, escancaro delírios e me perco no pouco saber.  *foto: Te Cris

Inté mais domingo

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Chuva, vento e a melancolia organizavam o cenário desse domingo displicente.  Um banho demorado, cabelo desajeitado, camiseta com palavras de ordem e a velha calça de moletom desenhavam um dia de preguicinha marota. Os pensamentos eram rápidos, tal qual a mão nervosa no controle remoto com mil canais para ver e sem nada para assistir.  Vez por outra, o aconchego de uma lembrança gostosa, de um lugar inesquecível e de um olhar previsível brincavam com o hipotético. No canto do quarto recolho a saudade. Arrumo os travesseiros e me permito devanear. Por alguns minutos me transporto para um abraço e recolho pedaços de histórias de ser feliz. Caminho no grande e pequeno espaço do apartamento com passos anônimos, sem máscara ou reação. Dia de ler atentamente os jornais. A manchete está contaminada, não concordo com a linha editorial de um veículo e o outro, poderia ser mais arrojado. Tento desvendar as entrelinhas. Acredito que faria melhor aquela reportagem. Cadê o

Gosto de pensar em...

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Gosto de pensar em pontes Levam   para encontros. Gosto de pensar   em portas Abrem-se para abraços. Gosto de pensar   em janelas Com segredos e mistérios. Gosto de pensar   em companheiros sorrindo em estrelas. Gosto de pensar   em segredos mexendo com a soberania. Gosto de pensar  solidariedade implicando com o poder. Gosto de pensar   em carinho nascendo de um ramo de flores. Gosto de pensar   em cozinha com amigos partilhando histórias. Gosto de pensar   em livros desvendando enigmas. Gosto de pensar   em chave que num enlace cria o despertar. Gosto de acreditar que Preciso gostar de pensar para sobreviver.

Tom de celebração

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O girar da chave na porta, a solidão de uma casa vazia e o adeus aos devaneios anunciavam um novo despertar. Ter  audácia de assumir a fragilidade é sinônimo de coragem. Se colocar tal qual um novato que necessita de um novo ofício para aprender a viver mexe com os brios de quem pensou em desistir. Noites mal dormidas, insegurança e a fé, tantas vezes testada, foram alimentos para uma alma cansada de desistir.   A fantasia de enfrentar a longa maratona para ter como prêmio o sorriso estampado na linha de chegada motivou o renascer. Hoje, as teclas são testemunhas de lágrimas incontidas A briga do que fui, e hoje sou, me fez mais forte. O não tantas vezes dado, serviu de estímulo para o sim vivenciado na amizade e no carinho. O momento é de reflexão.   Não gosto desse tom cinza que estamos vivendo.   Prezo meu desejo libertário de uma sociedade mais justa e igualitária. Nego os falsos profetas e sigo de mãos dadas com aqueles que acreditam na amizade, na ternura e

Ressentimento

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O diálogo acontecia de forma corriqueira. A temática era o cotidiano. O novo semáforo na esquina, o aumento da passagem de ônibus, o trabalho estressante e o desejo de realizar a próxima viagem de férias. E num repente a frase corta as entranhas: “Estou ressentida”. A citação veio tal qual uma sentença de morte.   Que mal foi causado que de uma conversa trivial, um pedido de socorro aparece de forma tão simples e tão forte? O olhar está parado num sonho qualquer. Perde-se nas lembranças do que foi dito e não feito. Não se via a luta, a fibra tão característica. Não se encontrava no presente a sombra de uma vida longínqua. Era apenas a certeza da desfeita, na fantasia do reconhecimento de sua história. Estava só. Os que testemunharam sua competência e sua trajetória sumiram no deslizar dos dedos, ao apagar um arquivo sem valor. Não era apenas um melindre ocasional. Era, sim, uma tristeza fina, tatuada na alma. Vivenciada na fala do adulador, nos gestos do ign

Cilada

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Em um momento de inquietação, do desejo de subverter e de interferir. Da urgência em se posicionar e de ler o que não está escrito, nasce a resistência. É necessário modificar o enredo rocambolesco, que grita em aventuras e transforma o bandido em um semideus. Hoje o desejo é clamar por mim, pelo outro, pelo oprimido. Sofro com a humilhação, com a dor do medo que se avizinha na esquina. O perigo está em cada canto, escondido em ira. O pesadelo torna-se lamento. As mãos atadas não compactuam do gesto banal, que os infelizes utilizam na certeza da impunidade.   Os insultos são normais, não há mais o cuidado e o zelo. Embalados em sonhos, de farsa e trapaça, homens jogam, dividem e humilham.   O véu da fraude se apropria de rostos e de esperanças. O conceito de empatia se perde e não é mais preciso compreender e vivenciar sentimentos do outro. E na emoção de mais um dia, surge a canção de João Gilberto: " O pato, vinha cantando alegremente q