Inté mais domingo

Chuva, vento e a melancolia organizavam o cenário desse domingo displicente. 

Um banho demorado, cabelo desajeitado, camiseta com palavras de ordem e a velha calça de moletom desenhavam um dia de preguicinha marota.

Os pensamentos eram rápidos, tal qual a mão nervosa no controle remoto com mil canais para ver e sem nada para assistir. 

Vez por outra, o aconchego de uma lembrança gostosa, de um lugar inesquecível e de um olhar previsível brincavam com o hipotético.

No canto do quarto recolho a saudade. Arrumo os travesseiros e me permito devanear. Por alguns minutos me transporto para um abraço e recolho pedaços de histórias de ser feliz.

Caminho no grande e pequeno espaço do apartamento com passos anônimos, sem máscara ou reação.

Dia de ler atentamente os jornais. A manchete está contaminada, não concordo com a linha editorial de um veículo e o outro, poderia ser mais arrojado. Tento desvendar as entrelinhas. Acredito que faria melhor aquela reportagem. Cadê o cidadão no teor da reportagem viciada?

Uma fominha alerta quanto o tempo passou. Ao requentar o prato, o espelho do micro-ondas reflete as marcas no rosto e, sem disfarce aparente, denuncia os anos vividos.

Tal qual um títere, me deixo levar pelo encontro nas redes sociais. Os dedos correm pelo teclado e viajam  para o desejo. Escrevo, me perco. Dou risada, fico indignada. Compartilho, recebo e assim o dia termina. Não ouvi, por um segundo, o som rouco de minha voz grave. Um silêncio brando acalma o coração inquieto. 

Um grito ecoa.. hora de recomeçar.

Comentários

  1. lindeza de texto, imaginei a cena completa! é hora de recomeçar

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  2. Boa, TeCris! Belo texto que retrata muito de você, mas que é a realidade do domingo de muitas pessoas.👏👏👏

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  3. Como sempre, um prazer ler seus textos. Beijo grande ❤

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