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Mostrando postagens de setembro, 2020

Não sei viver o jogo do contente

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Todos os dias encontro a realidade de mãos dadas com a mínima expectativa. Um despertar de poucas novidades se desenrola durante as horas seguintes.   O caminho, por vezes longo, atravessa detalhes. A senhora TV faz companhia e a as vozes preenchem o ambiente. O som é apenas para quebrar o silêncio do apartamento, ora enorme, ora pequeno. E surgem estudiosos explicando, com profundidade como será o novo normal. Animadamente orientam sobre o que fazer após a pandemia.    Com um entusiasmo irritante pregam dias melhores. Seria agora o momento de planejarmos esse futuro com muitos abraços, festas, volta ao trabalho presencial   e sonhar livremente com viagens e esperar alegremente pelo próximo   carnaval. E nesse momento tive certeza que Eleanor H. Porter jamais se   inspiraria em mim para escrever    o livro Poliana. Não consigo   ser otimista e pensar que sairemos melhor após a loucura da pandemia e do isolamento. A proposta do jogo do contente corta as entranhas e, brincando com

Máscara. Não é disfarce e sim cuidado

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 Estranhamente, os que não têm nada para esconder usam máscaras.  De cara limpa e de sorriso largo sigo a vida. A maquiagem alivia algumas marcas da vida, mas elas se fazem presentes na história. O sorriso transparece no olhar, a verdade grita na atitude e cumpre-se um ritual de amor. Mas há quem negue, quem não se compadece e não tem claro a importância do outro. A máscara não me esconde e sim me coloca no palco e me faz brilhar na ribalta. O temor do desconhecido está em cada esquina, um inimigo que destrói e invade a falsa segurança. Cubro o rosto e mostro a essência. Desnudo a alma e respeito o medo.   Odeio o termo "novo normal".No estilo realista nada pode ser igual, insólito é o significante e a verdade de cada amanhecer reaparece na esperança.

Exílio

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Diante desse isolamento sem fim algumas lembranças tocam o coração.  O descompasso das malas na esteira, o frescor suave em um dia de sol, a emoção ao ler nas entrelinhas  a tão sonhada frase de amor.  O arrepio num toque das mãos, uma longa  viagem de tempo curto, um livro de enredo fascinante.  A roupa larga na estética da ditadura, as grandes decisões em um papo no bar, a ideia do belo e sua tirania. O descompromisso de comprar inutilidades, carregar sacolas de desejos, sentir uma vitória interior apenas por seguir. A injustiça da espera de uma ligação, os dedos rápidos no teclado acelerando a expectativa, o café forte empurrando para a vida. O encontro do sagrado, o raio de sol penetrando na fresta,  a desorganização do armário arrumado, a vitória de um novo quadro na parede A lágrima teima em aparecer. O calendário não perdoa, indiferente ao tempo e ao espaço * foto: Te Cris