Não sei viver o jogo do contente




Todos os dias encontro a realidade de mãos dadas com a mínima expectativa. Um despertar de poucas novidades se desenrola durante as horas seguintes.  O caminho, por vezes longo, atravessa detalhes.

A senhora TV faz companhia e a as vozes preenchem o ambiente. O som é apenas para quebrar o silêncio do apartamento, ora enorme, ora pequeno. E surgem estudiosos explicando, com profundidade como será o novo normal. Animadamente orientam sobre o que fazer após a pandemia.  

Com um entusiasmo irritante pregam dias melhores. Seria agora o momento de planejarmos esse futuro com muitos abraços, festas, volta ao trabalho presencial  e sonhar livremente com viagens e esperar alegremente pelo próximo  carnaval.

E nesse momento tive certeza que Eleanor H. Porter jamais se  inspiraria em mim para escrever   o livro Poliana. Não consigo  ser otimista e pensar que sairemos melhor após a loucura da pandemia e do isolamento.

A proposta do jogo do contente corta as entranhas e, brincando com o sarcasmo, não consigo pensar positivamente ao imaginar como será o amanhã. O verbo ressignificar passou a fazer parte das conversas e dos depoimentos.  Transformar, dar uma nova cor para a parede antiga.

O  livro do apocalipse me parece atraente, mas sou limitada para ousar. A ignorância é companheira. E, confesso, tenho medo.

Não consigo seguir o protocolo do otimismo. Vejo um futuro desbotado e a canção grita desafinada que nada será como antes.


*foto: Te Cris

Comentários

  1. Menos pulmão menos liberdade, se puder replantar, ajudo.
    Vamos nos adaptando.vendo fotos .......

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