Janela, minha companheira


Sempre fui fascinada por janelas. Nas viagens fico encantada por molduras tão diferentes, registro tudo e nascem as fotos. Imagino histórias, me prendo aos detalhes, cores e formatos. Quantos segredos!

Por quase toda a minha vida, a visão sempre foi do meu quintal. E tal qual adolescente eu sonhava em ter a experiência de debruçar, ver e rever o mundo.

E aí tudo mudou. Nessa solitude continuada, com a porta fechada e o entendimento do "fique em casa", vislumbro do oitavo andar um diálogo com o mundo. Escancaro meus devaneios, busco detalhes e participo de conversas inexistentes.

Com uma xícara de café agradeço em oração o nascer de mais um dia. Atenta ao movimento das ondas do mar, decido o clima. E me preparo para vivenciar momentos.

Alguém com passos acelerados tem que parar no ponto de ônibus, a longa espera  e a certeza de chegar, mas sem saber quando.

A menina anda com olhar pregado no celular  aceleradamente escreve mensagens e não percebe o buraco na calçada. Cuidado... tarde demais. Lá vem um tropeção.

Uma freada rápida, buzina.... um xingamento. E nada abala  a vovó de bobes nos cabelos, que passeia tranquilamente conversando com seu companheiro de quatro patas.

Outros vizinhos também seguem uma rotina. Separados pela avenida, cumprimento, num delírio, os meus companheiros de jornada.

Vejo cores, entendo dores e relembro amores. A luz do sol reflete na esquadria de alumínio e fere a saudade.

O choro e o riso tornam-se parceiros e o milagre de existir acontece.




Foto: Te Cris

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