Par


    
   Hoje bateu aquela absurda solidão. Começou logo cedo, acordei, olhei para o lado e não havia ninguém para dizer ‘bom dia’.

     O trajeto da minha vida estava mais que pronto. Já conhecia cada esquina, cada casa, por onde passava rotineiramente. Falava com as calçadas gastas, onde, dia após dia, depositava ilusões e esperanças.

    O ascensorista do prédio fazia sempre o mesmo comentário otimista, anunciando que o amanhã será melhor. Até parecia um robô programado com mensagens de incentivo e felicidade.

   Depois de um dia estafante, com relatórios e projetos intermináveis, finalmente findava a minha missão. Saí aberta para o mundo, procurando no caminho a luz de um olhar, que estava tão distante.

     Comecei a observar. Vinha um casal de jovens com mil apostilas de cursinho, entre um beijo e um afago, comentavam algo sobre a aula. Mais adiante, dois velhinhos de mãos dadas, tomavam muito cuidado para atravessar a rua. Os cabelos brancos eram resultado de uma grande experiência.

     Eu ia caminhando, procurando. Chega o cansaço, entro no  ônibus. Todos sobem confiantes, preocupados, apressados. As pessoas sentam lado a lado. Fico só no banco, não chega ninguém.

     São duas faces da moeda. São dois sentimentos que movem o homem: o amor e o ódio. Ou é noite, ou é dia. São duas mãos de direção que regem a vida. São dois os pés que caminham entre cruzamentos bons e torturantes. É a morte ou é a vida.

     A tarde está linda. Não vou para casa. Sento em um banco e fico admirando os pássaros, as crianças que correm despreocupadas com o amanhã. Sinto o cheiro da terra. O brilho do sol acaricia docemente minha pele.
     A praça está repleta. O vendedor de bilhetes invade o cenário, e sorrindo diz:

     - Olha a sorte aí, princesa. É o avestruz... é o número dois.


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