Eleva dor

       

          Tenho de subir! Vou encontrá-lo depois de tanto tempo. Esse elevador desce na calma que não possuo. Mas preciso aguardar.
            Vou entrar na sala com um olhar prepotente e vitorioso. Não, é melhor não. Serei sutil, usarei um tom distante. Qual a fórmula ideal para convencê-lo do meu amor? Falarei doce e mansamente, como uma princesa saída dos romances infantis.
            Como demora a descer. O que estou fazendo aqui? Tenho que desistir. Chega de humilhação. Será que ele vai me maltratar e dizer mais uma vez “me esqueça”? É, pode ser... Tenho que ser firme, não devo chorar.

            Eu poderia acender um cigarro, ele oferece uma falsa coragem. Mas do que adianta, logo terei que apagar. Estou tensa e não consigo organizar o meu pensamento. Seria hoje o melhor momento para conversarmos?
            Olho a escada... Poderia seguir esse caminho. Assim demoro mais e tento ordenar os fatos. Nessa caminhada longa eu tenho mais chances. Porém, vou chegar tão ofegante que certamente confundirei as emoções. Atropelarei as palavras. O meu rosto demonstrará o cansaço desta escalada. Hoje tenho que ser brilhante e estar segura e bonita.
            Chegou, finalmente. As pessoas saem e todos parecem me olhar. Será que é tão fácil perceber a expressão de uma mulher ansiosa e apaixonada?
            A porta fica aberta por alguns instantes. Tenho medo. Cheguei até aqui e só me resta entrar. Mas sozinha? Não existe ninguém que possa me acompanhar?
            Entro, aperto o botão, 5º andar. Não tem ascensorista... Quantas batidas por minuto estará meu coração? Talvez o batimento cardíaco esteja igual ao de nossa primeira vez. Começo a imaginar o diálogo...
            Oi, tudo bem? Está ocupado? Café? Quero sim. Obrigada. Ah! Você acha mesmo? Você também me quer de volta? Me ama? Jura? Não acredito. A hora que você quiser. Também estava morrendo de saudade...
            Esse elevador faz tanto barulho. Já estou no 4º andar. No quarto. Quarto de tantos sonhos... tantas juras...tanto prazer. Sinto vertigens.
            Parou. A porta agora abre rapidamente. Saio no corredor com passos firmes. Hoje estou decidida a dizer, a lutar e reconquistá-lo.

            Me encaminho para o seu escritório... e encontro um bilhete pregado na porta: “Hoje não tem expediente, volte amanhã”.

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