(Re)torno

   Num ato de coragem, retornei ao ponto. A mesma decoração, rostos conhecidos, um cigarro antes de entrar e aquele bate papo com o amigo, que pacientemente ouve minha lamentação. 

  É uma atitude heroica voltar ao lugar onde a presença do ausente grita. A sensação de que nada mudou e tudo não passou de um pesadelo é real. Num manifesto hipotético acredito que  a porta vai abrir e tudo retornará ao que sempre foi.

    Não me peça para entrar na sala, não vou conseguir. A presença é forte, sinto o perfume da orquídea e acredito que ouvirei aquela sonora gargalhada, que hoje faz tanta falta.

  Os braços, que formam um laço no abraço forte, ficaram no imaginário.  A sensação das mãos unidas aperta o peito e dói. Não é apenas uma sensação, um estímulo enviado ao cérebro. A  dor é física, aguda e se não cuidada, certamente se tornará crônica. Talvez a receita seja escrever.

      Hoje desminto Milton Nascimento, o trem que chega não é o mesmo da partida. Se assim fosse, ficaria horas na plataforma esperando, para ouvir a carinho do belo encontro.

       Qual o mistério? O que foi que não entendi nesse enredo? Será que a trilha poderia ser um bom fado ou um tango rasgado? Um forró ou uma canção sertaneja, de raiz?

      Não há tempo para recordação. Tudo é tão agora. E a história ainda não dá para ser contada, ficou o rascunho de coisas não ditas, nessa saudade amplificada.

      E num devaneio invento a esperança do retorno.









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